terça-feira, 7 de novembro de 2006

O dossier documental – uma hipótese de trabalho

O dossier documental – uma hipótese de trabalho
Alice Alves – Professora de Filosofia do Ensino Secundário

Hoje vivemos na chamada sociedade da informação. A escola deixou de ser a única fonte de conhecimentos e informação, tendo a produção de saber, e também da informação, atingido ritmos acelerados, exigindo à escola a assunção de novas funções. Uma delas será, necessariamente, ajudar o aluno a orientar-se no labirinto dessa informação, no sentido de elaborar sínteses integradoras que lhe permitam uma visão sistémica do universo, da vida e do ser humano; outra dessas funções será, obviamente, a organização documental, num universo povoado de papéis e de outros suportes documentais.
Actualmente, a maioria dos programas escolares indica, com insistência, o recurso à criação de dossiers documentais, pois é impossível os manuais escolares apresentarem informação variada e sempre actualizada sobre um determinado tema. Isso significa que, muitas vezes, uma informação mais aprofundada sobre um assunto qualquer só possa ser encontrada, quer por alunos, quer por professores, em publicações periódicas ou em monografias. O grande volume de informação que se recolhe, associado à prática corrente de fazer cópias de todos os documentos, leva muitas vezes ao incómodo da organização dos mesmos, pois que, sem qualquer ordem interna, se tornam num amontoado de papéis não consultáveis. A grande questão que se coloca é “Como arrumar, então, toda essa documentação?”.
A constituição dum dossier documental poderá ser uma estratégia de satisfação das necessidades atrás enunciadas, dado que analisa várias dimensões duma mesma questão, devendo ter um carácter sintético e ser facilmente consultável. Ele deverá ser, assim, um produto documental utilizável por todos. Uma vez que ele é produzido pelos alunos, deve ser guardado na Biblioteca / Centro de Recursos Educativos da Escola (CRE) e / ou na Sala de Estudo, estando, assim, acessível quer à Comunidade Escolar em particular, quer à Comunidade Educativa em geral. O dossier dá ainda a possibilidade a professores e a alunos de partilharem a descoberta dos saberes da vida real, numa relação activa entre ambos e entre a escola e a comunidade.
O dossier documental apresenta documentos de natureza diversa, de modo organizado, quer do ponto de vista material, quer do ponto de vista intelectual, de forma a permitir uma recuperação rápida da informação que contém. A organização intelectual dependerá da perspectiva adoptada: interessa fazer uma análise genérica do assunto? ou convém partir da análise dum problema concreto que se passa num determinado momento? Se assim for privilegiar-se-á a apresentação temática. Mas se se pretende fazer uma análise histórica do problema, a escolha far-se-á por um plano de ordem cronológica. O dossier pode apresentar ainda a forma dum debate contraditório: a primeira parte dos documentos incidirá sobre as opiniões favoráveis, a segunda sobre as opiniões discordantes, devendo cada uma das partes seguir o mesmo critério de apresentação.
O dossier documental deverá conter uma introdução que explicitará o assunto, os aspectos focados, podendo ser um resumo do seu conteúdo.
Como organizar o dossier? A decisão da constituição dum dossier pode ser da iniciativa dos professores e / ou da iniciativa dos alunos, quando estes se mostram interessados em aprofundar certos aspectos de um mesmo assunto ou de assuntos diferentes. Para tal é necessário percorrer diversas etapas. Na Pesquisa Documental (I) a metodologia, apesar de algumas especificidades, é semelhante à de qualquer trabalho documental. Primeiro que tudo deve escolher-se a área temática, em função dos objectivos que se pretendem atingir. Não devem ser escolhidos temas muito genéricos (I.1 - Definição Temática). Ao nível da Selecção dos Documentos (I.2), estes: - podem ser os próprios originais, desdobráveis, cartazes, folhetos, partes de uma publicação, etc., ou então podem ser obtidos por fotocópia; - deverão ser pertinentes, isto é, adequados ao tema e aos objectivos da investigação, por isso não interessa “despejar” tudo o que se encontra relacionado com a temática no dossier; - devem ser legíveis, seja do ponto de vista da cópia, seja do ponto de vista da compreensão; - devem ser de origens diversas (económica, política, imprensa, enciclopédia, etc.); - os documentos devem ter uma extensão razoável, de duas a seis páginas; - podem ter uma grande variedade de apresentação: desenho, gráfico, texto, fotografia, etc.; - devem ser examinados globalmente. Não nos devemos ficar apenas pela informação dos títulos, devemo-nos apoiar em sumários, resumos, introduções, prefácios, índices, posfácios, condição essencial para ter uma ideia do conteúdo; deve verificar-se também as datas de edição, para averiguar da sua actualidade. A Referência dos Documentos (I.3) é uma exigência que implica identificar o documento que se isola da obra de que faz parte. Essas referências deverão ser correctas e completas. Para tal deve recorrer-se à Norma Portuguesa para a Referência Bibliográfica, a NP 405 (que pode ser consultada na Biblioteca da Escola):
- Capítulos e / ou partes de monografias: APELIDO, Nome - Título. In APELIDO, Nome do(s) autor(es) da obra principal – “Título da obra principal.” Local de publicação: editor, data, 1ª e última páginas do capítulo.
Exemplo:
SCHEFLEN, Albert E. – Systèmes de la communication humaine. In WINKIN, Yves- “La nouvelle mcommunication”. Paris: Seuil, 1981, p. 145-157.
- Artigos de publicações em série: APELIDO, Nome – Título do artigo. “Título da publicação”. Local de publicação. Volume: número, ano, 1ª e última páginas do artigo.
Exemplo:
NOGUEIRA, Maria Manuela – Bibliotecas infantis. “Cadernos de BAD”. Coimbra. 1: 6 (Set. 1986) 5.
- Artigos de jornais assinados: APELIDO, Nome – Título: complemento de título. Nome do jornal: suplemento. Data (nº), página, colunas.
Exemplo:
LOURO, Regina – Rogerman: o mundo é uma ilha. Público: Leituras. 18 Set. 1990 (198), p. 4, col. 1-3.
- Artigos de jornais não assinados: Título do artigo. Nome do jornal: suplemento. Data (nº), página, colunas.
Exemplo:
Empresas inscritas na gestão 88. Expresso 2: Economia e Desporto. 30 Jan. 1988 (796), p. 2E, col. 2-6.
A Apresentação Material (II) é um elemento fundamental para a utilização deste tipo de documento, que é o dossier documental.. A Capa (II.1) deve conter o título em maiúsculas, com data e autor(es) da compilação. O Sumário (II.2) deve ser colocada no início do dossier, e nele constará o plano das secções e subsecções e respectivos títulos, ou então a referência de cada documento, consoante a arrumação que se lhes dê. Ao nível da Arrumação (II.3) salienta-se que, sempre que possível, os documentos devem ser colocados em folhas transparentes, tenham uma ou mais páginas, e que convém colocar separadores para as grandes divisões.
Os documentos podem arrumar-se por ordem de recolha (se for uma apresentação temática). Ao primeiro atribui-se o nº 1 que se coloca na primeira página do documento; ao segundo o nº 2, que também se coloca na primeira página, e assim sucessivamente. Assim, o último documento seleccionado para integrar o dossier é o primeiro que vimos. Quanto à Paginação (II.4) deve referir-se que a numeração da página ficará no canto superior direito. Poderá ser alfanumérica para permitir a inclusão ou a exclusão de documentos (em função das necessidades de evolução do próprio dossier).
Em jeito de conclusão, poderíamos dizer que a constituição dum dossier documental na Escola pode tornar-se muito útil; por um lado, ajuda-nos a organizar os documentos que de outro modo se acumulariam e deixariam de ser utilizáveis; por outro, pode ajudar os alunos a organizarem os seus recursos informativos, a orientá-los na pesquisa e, por isso, pode levá-los a tomar consciência da importância da autodocumentação e da sua organização, permitindo também o desenvolvimento do trabalho independente, do trabalho de grupo e do trabalho de projecto.
Nota: Tomámos como referências para tecer estas considerações sobre a constituição do dossier documental: PAIVA, Margarida – A constituição do dossier documental. (Folhas policopiadas) e PESSOA, Ana Maria – Como organizar um dossier temático?. Setúbal: Centro de Recursos Educativos da Escola Superior de Educação do Instituto Politécnico de Setúbal, 1991 (Como fazer, nº 14).

1 comentário:

Anónimo disse...

Por que nao:)